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Landless Voices II

Por que eu nasci errada?

 

Nasci numa família numerosa: nove mulheres e dois homens.

Família humilde, com muito amor maternal.

Fui crescendo, vendo, percebendo.

Eu era diferente, não era igual.

Minhas irmãs, femininas, meigas.

Eu, robusta, desajeitada, fora do normal.

Enquanto elas brincavam de bonecas e casinhas,

Eu era um piá infernal.

 

O tempo foi passando e eu só analisando.

Estudei, brinquei, namorei, tudo parecia até normal.

De repente percebi que eu era diferente.

Aquela vida não era pra mim,

Não foi para isso que eu nasci.

 

Infeliz, agoniada, fora do plumo.

Difícil aceitar, mas eu não era normal.

Comecei a pensar e pensar.

Cada vez mais me deixava fechar.

Impossível acreditar;

No meio de oito irmãs

Eu me percebia desigual.

 

Ainda hoje sofro, sonho, analiso

E ainda não encontrei a resposta.

Só queria, do fundo do coração

Ter nascido, crescido, vivido, amado,

Como uma mulher normal.

 

Anseios, desejos, encontros e desencontros,

Um sonho desigual.

Por mais que o tempo passe,

Eu vejo, leio, aprendo,

Mas ainda, não me aceito

Como uma pessoa normal.

 

E essa é a pergunta que eu mesma me faço:

Por que eu nasci errada?

Por mais que eu tente,

Eu não consigo ser o que sou,

Fora do armário.

 

Relato escrito pela educadora Ione Sereia.

Colégio Estadual do Campo Estrela do Oeste – Santa Maria do Oeste – Paraná.

Seminário: 24 a 26 de novembro de 2016.

© Vozes Sem Terra II

 

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