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Landless Voices II

Sozinha a escola não dá conta

Nós, enquanto direção [da escola], queremos contribuir para que nossos educandos e educandas e nossos educadores, toda a comunidade da Lapa, consiga construir um pensamento e uma prática libertária. Então, veio bem como uma luva o projeto de gênero na nossa escola [...].

Um dos problemas que a gente vem tendo por lá é o problema da religião, principalmente a questão dos evangélicos. A gente tinha que andar pisando em ovos pra falar da questão da homossexualidade, trabalhar com a questão do machismo. [...] E eu como diretor da escola percebo o avanço que nós temos, inclusive na vida dos nossos educadores, na nossa própria vida. Pessoas que tinham a sua vida toda reprimida e, de repente, se perguntam: 'Mas, existe outro jeito de viver?' 'Existe outra forma? Outra vida é possível?' É possível.

Então, assim, esse trabalho desenvolvido esse tempo todo. Foram vários encontros [workshops] que nós fizemos. Inclusive está dentro do nosso Projeto Político Pedagógico. Esse projeto de gênero que está sendo desenvolvido nos dá mais segurança e firmeza para aquilo que estamos fazendo. Nós tínhamos vontade, mas não tínhamos como fazer. [Esse projeto] foi nos dando fundamento, baliza para irmos avançando nessa questão. Depois que é lançada essa semente pode ser que ela morra, mas o vento vai levar outras sementes e elas vão se multiplicando. Eu recomendo para as escolas. Esse é um debate que as escolas não podem se furtar.

A gente vai vendo nas falas, nas reações dos estudantes. É bom que a gente veja as pessoas vivendo e aprendendo, nas próprias reações: 'Lá em casa a gente tá quebrando o pau com certas coisas. O pai pensa assim, nós vamos dizer que é assim. Quem vai fazer a janta? Faça você também, né'. É aquela coisa que ficou bem clara; o trabalho da casa é trabalho. 'Ah eu ajudo minha companheira a lavar louça'. Eu não tenho que ajudá-la. Esse é o trabalho da casa, tem que ser dividido. Se eu ajudo dá a impressão que o trabalho é dela, e o trabalho não é dela. O trabalho tem que ser feito por quem mora naquela casa. Então a gente vê as reações deles assim.

E, por conta da religião, teve bloqueio de alguns, mas de poucos. No geral, foi muito bem assimilado, apreendido e também estão colocando em prática. [...] Sozinha a escola não dá conta. A gente fica patinando e não avança. Mas, com a força que vocês deram, a gente conseguiu ver que isso contribuiu muito, porque na dinâmica da escola cada professor tem uma formação, cada um tem um jeito de ver. E, assim, a Universidade cumpre a sua função social que é ir onde o povo está. A gente não dá conta. Uma educanda esses tempos me falou: 'Essa escola me ajudou muito. Como eu era e como eu sou'. Isso é gratificante, porque na educação a gente “não” vê o trabalho. Não é uma coisa tão concreta. Vai ver depois de muito tempo. Quando a gente vê, assim, num processo mais rápido fica muito satisfeito, porque a gente consegue fazer educação.

 

Depoimento do diretor Samuel A. da Silva.

Colégio Estadual do Campo Contestado – Lapa – Paraná.

Abril 2018

© Vozes Sem Terra II

 

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